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27/09/2013 Sarapatel de empresário


Sarapatel de empresário

Luiz Otavio Nascimento

Sarapatel é uma iguaria brasileira apreciada em várias regiões, preparada com o sangue e os miúdos do animal. Existem diversos tipos e, em geral, recebe o nome do pobre animal que contribuiu para sua concepção.
Dando uma breve pausa culinária e motivado pelos comentários ao artigo da semana passada, volto ao tema dos impostos e da relação Governo - Empresas.
Deixando a corrupção ao largo da análise, acredito que a sangria desatada ao Empresariado Nacional se deve, em parte, à passividade do rebanho e à falta de visão estratégica e gestão do Governo Federal, corroborada pelo Congresso Nacional. Exemplos não faltam ao longo da história, de qualquer lado do muro partidário.
É fato que Brizola do PDT, enquanto governador do Rio de Janeiro, implementou os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) visando tornar integral o ensino fundamental. Construiu dezenas deles e, com ajuda do antropólogo Darcy Ribeiro, mudou toda a estrutura da Secretaria de Educação e a proposta pedagógica para concretizar esta visão. Pois bem, ao ser substituído por Moreira Franco do PMDB, a primeira providência desse novo mandatário fluminense foi acabar com tal projeto, talvez numa tentativa de apagar a lembrança do seu antecessor, mesmo a custa do erário e gerando um retrocesso educacional.
Quem impediu isto? Ninguém. Quem perdeu? Todos. Quem pagou a conta? Em última instância e sempre, os empresários.
No Governo Geisel, ditador da vez e membro da Arena, tal qual o Sarney, se produziu um documento assinado por todos os responsáveis pela política energética, mencionando que o potencial hidrelétrico brasileiro estava esgotado e, portanto, se justificava comprar oito usinas nucleares da KWU alemã ao preço de bilhões de dólares, para se juntarem a uma antiga e eficiente estação adquirida da Westinghouse. E assim se fez. Pagamos as oito, mas somente instalamos duas e hoje, no total, operamos 2 1/2, pois uma delas é tal qual um pisca-pisca. O conjunto da obra gerou um monstruoso prejuízo aos cofres públicos.
Quem impediu isto? Ninguém. Quem perdeu? Todos. Quem pagou a conta? Em última instância e sempre, os empresários.
Um signatário do documento original hoje é fazendeiro no Texas. Sou levado a imaginar que ele, talvez, seja coautor do relatório sobre existência no Iraque das armas de destruição em massa (rsrsrs).
Em 2007, no governo do prefeito César Maia, foram realizados no Rio de Janeiro os Jogos Panamericanos, ao custo de bilhões de reais, tendo sido construídos centros esportivos e uma vila olímpica. No documento original apresentado ao Comitê Olímpico foram feitas promessas de obras de melhoria do trânsito, despoluição e não uso de dinheiro público. Nada disso foi cumprido. A vila olímpica provavelmente será implodida por erro na construção, o estádio João Havelange está interditado e o velódromo está fora das especificações. Quatro anos depois, a cidade de Guadalajara no México realizou os Jogos Panamericanos de 2011 a um custo equivalente a somente 25% do que foi gasto no evento carioca.
Quem apurou isto? Ninguém. Quem perdeu? Todos. Quem pagou a conta? Em última instância e sempre, os empresários.
Esta semana, vimos a presidente reclamar na ONU, com razão e veemência, contra a espionagem norte-americana, mas penso que faltou o mesmo ímpeto para esbravejar contra a expropriação de bens brasileiros feita por Evo Morales, que resultou em aumento do gás usado nas indústrias. Contra as inúmeras medidas tomadas pela Sra. Cristina Kirchner que prejudicaram as nossas exportações ao país dito irmão, mesmo sob o manto há muito esburacado e bastante ruço do Mercosul. Talvez não tenha havido repreensão, porque brigar contra esses dois bolivarianos e defender o empresariado nacional nunca deu IBOPE ou voto.
Quantos casos preciso elencar para convencer-lhes? Transamazônica? Ferrovia Norte-Sul? Transposição das águas do São Francisco? Duplicação da BR-101 Sul? Fazemos negócio de pai para filho com a Venezuela (vide caso da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco). Perdoamos dívidas de ditadores africanos. Emprestamos dinheiro a ditadores cubanos. Mas, como é difícil obter dinheiro de bancos estatais para salvar empresas brasileiras??!!
Na calada da noite da última terça-feira, o Congresso Nacional aprovou a multa de 10% incidente sobre o saldo de FGTS em casos de pedido de demissão dos trabalhadores, a ser paga pelos empregadores, numa inequívoca afronta a todos aqueles que produzem riqueza para este país.
Quem impediu isto? Ninguém. Quem perdeu? Todos. Quem pagou a conta? Em última instância e sempre, os empresários.
Agora, está saindo do forno a minirreforma política. Dentre as "pérolas" aprovadas pela comissão da Câmara, está a possibilidade de concessionários e permissionários de serviços públicos contribuírem nas campanhas políticas, um claro conflito de interesse. Está incluso também que o candidato não mais será responsabilizado por crime eleitoral praticado por integrante de sua campanha.
Quem vai impedir isto? Ninguém. Quem perderá? Todos. Quem pagará a conta? Em última instância e sempre, os empresários.
Todos os governos, independentemente de partido, entram e saem, e como prato principal e diário, passam a comer sarapatel de empresários. Imagino que essa iguaria deve ser o manjar dos deuses, pois eles não se cansam de comê-la em quantidades crescentes. Nunca enjoam. Querem mais e mais. E, tal qual galinhas, vacas, ovelhas, o empresariado pasta ordeiro e passivo. As reações são tímidas, ainda mais considerando que somos nós que pagamos a farra e custeamos as campanhas políticas dos nossos carrascos/cozinheiros/gourmets/vampiros. Fiquem à vontade para escolher o nome que quiserem. Existem alguns bem chulos.
É chegada a hora de nós empresários mudarmos esta história!
 
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